A nossa vida natural não é pecaminosa; devemos separá-la de todo pecado e não ter nada a ver com ele, sob qualquer forma ou pretexto. O pecado nasceu do inferno e do diabo; então eu, como filho de Deus, pertenço ao céu e a Deus. A renúncia aqui não é ao pecado, mas aos meus direitos sobre mim mesmo que é o que faz o pecado em sua essência, sobre minha independência e auto-confirmação; e é aí que a batalha se trava, nessa esfera. São coisas justas, nobres e boas do ponto de vista natural que nos mantêm afastados do melhor que há em Deus. Quando entendemos que as virtudes naturais se opõem naturalmente à nossa rendição total a Deus, estamos em vias de colocar toda a nossa alma bem no centro do seu maior campo de batalha. A maioria dos cristãos não questiona sequer nada mais sobre a malignidade do pecado, do mal e do erro, mas, no entanto, nos embaraçamos no que é bom na aparência. É o bom que é inimigo do melhor; e quanto mais alto subimos na escala das nossas virtudes naturais, tanto mais intensa será a oposição a Jesus Cristo. “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne” — os custos reais são sacrificar em nós tudo que há de natural e não apenas algumas coisas que há de mal. Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo”, Mat.16:24, ou seja, renuncie a todos os seus direitos sobre si mesmo; e ninguém o fará enquanto não compreender quem é Jesus Cristo de forma real e evidente. Cuidado para não se recusar a assistir ao velório e funeral da sua própria independência.
A vida natural não é pecaminosa, mas também não é espiritual e só pode tornar-se espiritual através do sacrifício dela. Se não sacrificarmos resolutamente tudo aquilo que é natural, o sobrenatural nunca poderá tornar-se natural dentro de nenhum de nós. Não há um caminho fácil para se poder chegar lá; a responsabilidade é sempre de cada qual. E não é uma questão de oração, mas de prática, de ação voluntária e ativa contra si próprio.